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Roque Callage (Santa Maria, Rio Grande do Sul, 13 de dezembro de 1886 — Porto Alegre, 23 de maio de 1931) foi um escritor e jornalista brasileiro.

Filho de Maria Cândida Leal de Oliveira e do imigrante italiano “Luis” (Luigi) Callage, que chegara a Santa Maria em 1876.

Roque, assim como todos de sua geração, seria profundamente marcado em sua infância com a eclosão, em 1893, de um movimento armado que se estendeu a todo o Rio Grande do Sul, com o objetivo de depor o governador Júlio de Castilhos, denominado “Revolução Federalista”. A revolução atingiria então sua pequena cidade de Santa Maria em março de 1894, que após a luta, seria invadida por tropas revolucionárias a cavalo, e cercada por três dias. É neste ambiente que começa a formação intelectual do escritor. Carente de recursos próprios, Roque Callage não teve instrução acadêmica formal, sendo mesmo considerado um autodidata. Com a abertura em 1907, em Santa Maria, do “Colégio Ítalo-Brasileiro” por Umberto Ancarani, agente consular da Itália naquela cidade, foi convidado a ensinar língua portuguesa.

Influenciado pela leitura de Eça de Queirós,ainda na adolescência, fundou o jornal “O Estudante” e logo após “O Bohemio”, ambos sem grande êxito ao público.

Em 1908, com apenas 22 anos, publica seu primeiro livro, “Prosas de Ontem”. O livro é considerado fraco, inclusive pelo próprio autor. Curiosamente, num gesto de autocrítica, procurou ao longo de sua vida, recolher todos os exemplares em circulação, existindo mesmo um que dedicava a si próprio “pelas asneiras que escreveu”. Todavia tal livro hoje,na edição original, é considerado raridade bibliográfica, supondo-se existirem apenas três exemplares.

Mais amadurecido, transfere-se para São Gabriel(RS), assumindo a função de jornalista nos periódicos “A Tribuna”, “O Comércio” e “O Diário da Tarde” e casa com a senhora Anita Banali, filha de um casal de italianos originários de Pressano di Lavis. A boa repercussão de seus artigos no interior do estado consolida seu perfil de jornalista.

Já seu perfil de escritor de temática regional surgiria não por uma particular tendência, mas pela atenção que Roque proporcionou ao ambiente sociológico em que vivia o Rio Grande do Sul: marginalizado pela política de “Café com Leite” na República Velha, o estado via no regionalismo uma espécie de autoafirmação. Em Roque, ela aparece através da publicação de “Escombros” (1910),seguido de “Terra Gaúcha” (1914) – considerado seu livro mais aprimorado e estilístico – acompanhada de sua atividade jornalística já em Porto Alegre, no “Correio do Povo” de Caldas Jr. Escreve sucessivamente os livros “Crônicas e Contos” (1920) e “Terra Natal” (1920) – este pela Editora Globo, a maior editora de então. Roque Callage, nesta altura, já reconhecido como jornalista e escritor regionalista, adere ao crescente movimento de contestação ao Governo Borges de Medeiros.

Em 1922, Borges resolve se candidatar mais uma vez ao Governo do Estado. Desta feita, entretanto, forma-se uma aliança entre vários estratos e grupos da sociedade gaúcha, para estimular uma oposição organizada.O veterano político Joaquim de Assis Brasil desafia Borges de Medeiros nas urnas.O Rio Grande do Sul fica fracionado entre “borgistas” e “assisistas”.È neste clima que o escritor é preso no café “A Barrosa”, reduto de “assisistas”, e solto logo após, por nada ter sido provado contra ele,mas essa experiência pessoal, certamente viria a acirrar ainda mais sua já declarada posição anti-governista.Uma vez abertas as urnas Borges é declarado vencedor, resultado inaceitável para a oposição que, liderada por Assis Brasil, adere a revolta armada. O escritor, que acompanhou algumas forças revolucionárias pelo interior do estado durante o período de rebelião como jornalista para o “Correio do Povo”, reune então os episódios da campanha militar em pequeno livro “O Drama das Coxilhas” (1923),onde narra em estilo pungente, a história da fase revolucionária em crônicas editadas em São Paulo por Monteiro Lobato- dada a censura local, já que continha veemente apelo pela intervenção federal no estado.

A Revolução duraria onze meses, até sua pacificação pelo Governo Federal. Roque Callage retoma suas atividades de jornalista, agora no recém criado jornal “Diário de Notícias ” (1925), onde assinaria coluna chamada “A Cidade”, plena de crônicas do cotidiano, críticas e sugestões à urbanização e modernidade de Porto Alegre. Ela se transformaria em referência da cidade na segunda metade dos anos 20 e leitura diária – amplamente comentada nos meios artísticos,culturais, acadêmicos, literários e políticos.Ao mesmo tempo em que exaltava a modernidade regional, criticava ironicamente o Modernismo como fenômeno literário-artístico cosmopolita, que surgia em São Paulo.

As discussões, antes políticas, agora seriam literárias. Os escritores regionalistas sentiram-se no dever de reagir ao Modernismo, e Roque se engaja neste grupo, também por sua relação já existente com Monteiro Lobato,também crítico regionalista em São Paulo.

Da sua atividade de escritor, lançaria “Vocabulário Gaúcho” (1926), “Quero-Quero” (1927) e “No Fogão do Gaúcho” (1929),todos editados pela Livraria do Globo.

Em 1930, a Revolução liderada pelo Rio Grande do Sul viria a transformar a situação da República Velha e é exatamente sobre este acontecimento que Roque Callage escreveria seu último livro “Episódios da Revolução” (Outubro de 1930). Figura de sua época, vivendo com detalhe e atenção seus momentos horas e tempos, Roque Callage , coincidentemente morreu com ela, em maio de 1931. Não viu, assim, uma nova era que começaria a abrir-se no Pais.

Faleceu no ano de 1931, aos 45 anos, vítima de tuberculose pulmonar, mal comum daquele período.

Foi fundador da 1° Associação Riograndense de Imprensa do Rio Grande do Sul e do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.Patrono da Academia Riograndense de Letras,na cadeira nº 35.

Ao todo o escritor deixou 11 livros:

“Prosas de Ontem” (1908) “Escombros” (1910) “Terra Gaúcha”(1914) “Terra Natal”(1914) “Crônicas e Contos”(1920) “Rincão”(1921) “O Drama das Coxilhas”(1923) “Vocabulário Gaúcho”(1926) “Quero-Quero” (1927) “No Fogão do Gaúcho”(1929) “Episódios da Revolução”(1930)

Textos Jornalísticos

Podem ser encontrados no “Correio do Povo” (1920 a 1925 e no ano de 1931) No “Diário de Notícias” (1925 a 1930) sob assinatura R.C. a coluna A Cidade publicada diariamente no jornal.

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