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Edward Teach ou Thatch, (c. 1680 — Ocracoke, 22 de novembro de 1718), mais conhecido como Barba Negra (em inglês: BlackBeard), foi um pirata inglês. Navegava nas Caraíbas e na costa leste das colônias da América. Embora pouco se saiba sobre sua infância, provavelmente nasceu em Bristol na Inglaterra. Pode ter sido um marinheiro em navios corsários durante a Guerra da Rainha Ana, antes de se estabelecer na ilha caribenha de Nova Providência, local onde Teach reuniu uma tripulação por volta de 1716. O capitão Benjamin Hornigold colocou-o no comando de uma chalupa que havia sido capturada, e os dois se envolveram em numerosos atos de pirataria. Os atos de pirataria foram impulsionados pela adição de mais dois navios à frota deles, um dos quais era comandado por Stede Bonnet, mas até o final de 1717 Hornigold desistiu da pirataria possuindo dois navios.

Teach tomou posse de um navio mercante francês, dando-lhe o nome de Vingança da Rainha Ana (em inglês: Queen Anne’s Revenge) e equipou-o com quarenta canhões. Iniciou uma fama de pirata, seu apelido derivado da grossa barba de cor preta e sua terrível aparência; possuía o hábito de pôr pavios de fogo acesos em seu cabelo para assustar os inimigos durante as batalhas. Formou uma aliança de piratas e bloqueou o porto de Charleston. Após uma extorsão aos habitantes, encalhou o Vingança da Rainha Ana em um banco de areia perto de Beaufort. Ele zarpou em companhia de Bonnet, estabelecendo-se na cidade de Bath, onde recebeu o perdão da Coroa Britânica. Contudo, logo voltou ao mar e atraiu a atenção do governador da Virgínia Alexander Spotswood. Spotswood organizou um grupo de soldados e marinheiros para tentar capturar o pirata, o que fizeram em 22 de novembro de 1718. Durante uma feroz batalha, Teach e vários membros de sua tripulação foram mortos por uma pequena força de marinheiros liderados pelo tenente Robert Maynard.

Um líder astuto e calculista, Teach desprezou o uso da força, utilizando apenas a sua temível imagem para obter a resposta desejada. Ao contrário dos dias modernos, a figura tradicional do pirata tirânico comandou seus navios com a permissão das tripulações, e não há o conhecimento de informações que o mostrassem ter prejudicado ou assassinado prisioneiros. Após a morte, foi romantizado e se tornou inspiração para vários piratas em obras de ficção numa variedade de gêneros.

Pouco se sabe sobre os primeiros anos de vida de Barba Negra. Comumente, acredita-se que tenha falecido com idade entre 35 e 40 anos, e, portanto, nascido por volta de 1680. Em registros contemporâneos seu nome é frequentemente mostrado como Barba Negra, Edward Thatch, ou Edward Teach, sendo o último mais utilizado. No entanto, há várias maneiras de escrever seu sobrenome — Thatch, Thach, Thache, Thack, Tack, Thatche e Theach. Uma fonte afirma que no início seu sobrenome era Drummond, mas a falta de qualquer prova torna essa hipótese improvável. Os piratas possuíam o hábito de utilizar sobrenomes fictícios para evitar que o verdadeiro nome de sua família se envolvesse na pirataria, de forma a honrá-lo, e isso faz com que seja pouco provável que Teach seja seu nome verdadeiro.

No século XVII, a ascensão das colônias da Grã-Bretanha na América, e no século XVIII, a rápida expansão do comércio de escravos no Atlântico, fez de Bristol um importante porto internacional, e Teach provavelmente viveu no que foi segunda maior cidade da Inglaterra. Certamente sabia ler e escrever, e se comunicava com comerciantes. Quando morto, verificou em sua posse uma carta endereçada para ele pelo Chefe de Justiça e Secretário da Província da Carolina, Tobias Knight. O autor Robert Lee especula que devido a tal fato, Teach pode ter nascido numa família respeitável e rica; podendo ter chegado ao Caribe no final do século XVII em um navio mercante (possivelmente num navio negreiro). O autor do século XVIII Charles Johnson afirma que Teach foi durante algum tempo um marinheiro operando da Jamaica em navios corsários durante a Guerra da Rainha Ana, e tendo “sempre se distingudo por sua ousadia incomum e coragem pessoal”. De acordo com os registros antes de sua vida como pirata, no momento em que Teach lutou nessa guerra, era então desconhecido.

No Caribe (local colonialista, mercantil, e de pirataria) ocorreram muitos acidentes marítimos nos séculos XVII e XVIII. No início do século XVIII, o corsário Henry Jennings, que se tornara pirata, e seus seguidores decidiram utilizar a ilha inabitada de Nova Providência como base de suas operações; uma vez que era de fácil acesso ao Estreito da Flórida e rota marítima de navios europeus que atravessavam o Oceano Atlântico. O porto de Nova Providência poderia facilmente alojar centenas de navios, mas era raso demais para que navios de grande porte da Marinha Real Britânica pudessem navegar. Nessa época, a ilha não era destino turístico — o que veio a tornar-se mais tarde —; o autor George Woodbury descreveu-a como “sem cidades com residências, era um lugar de permanência temporária e de descanso para uma população literalmente flutuante”, e continuando, “os únicos moradores permanentes foram piratas que acampavam, comerciantes e aproveitadores, todos os outros apenas passavam por lá.” A lei e a ordem eram desconhecidos; em Nova Providência os piratas eram bem-vindos.

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Barba Negra em gravura a cerca de 1736.

Em 28 de novembro de 1717, os dois navios de Teach atacaram uma embarcação mercante francesa na costa de São Vicente. Cada um deles dispararam ataques violent
os, matando vários de seus tripulantes, e forçando o capitão a se render. O navio La Concorde de Saint-Malo era um grande transportador de escravos. Teach e suas tripulações foram com o navio para o sul ao longo de São Vicente e Granadinas com destino à Bequia, onde desembarcou a tripulação e a carga, e ficou com o navio para seu próprio uso. A tripulação do La Concorde recebeu a menor chalupa de Teach, que foi renomeada para Mauvaise Rencontre (Mau Encontro), e viajou para Martinica. Teach pode ter recrutado alguns dos escravos, mas o restante foi deixado na ilha e posteriormente retornaram ao Mauvaise Rencontre.

Teach imediatamente renomeou o La Concorde para Vingança da Rainha Ana (Queen Anne’s Revenge) e equipou-o com

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Barba Negra em gravura a cerca de 1736. “Assim, o nosso Herói, Capitão Teach, assumiu o cognome de Barba Negra devido à quantidade de pêlos que, como um meteoro aterrorizante, cobria todo o seu rosto e ameaçou mais a América do que qualquer cometa que tivesse aparecido por ali. A barba era negra, que ele sofreu para deixar crescer até um comprimento extravagante; para cima, ela chegava até seus olhos. Ele estava acostumado a amarrá-la com fitas, em pequenas tranças, seguindo o costume de nossas perucas de cachos, e acomodando-as em volta das orelhas.”

quarenta canhões. No final de novembro, próximo à São Vicente, ele atacou o navio Great Allen. Depois de um longo período, o grande navio mercante e bem armado foi obrigado a se render. Ordenou que fosse para a costa, desembarcou a tripulação, esvaziou os porões de carga, e então queimou e afundou o navio. O incidente foi publicado no The Boston News-Letter, que descreveu Teach como o comandante de um “navio francês de trinta e dois canhões, um brigantine de dez canhões e uma chalupa de 12 canhões.” Quando ou onde Teach conseguiu o brigantine de dez canhões é desconhecido, mas àquela altura devia estar no comando de no mínimo cento e cinquenta homens divididos entre três navios.

Em 5 de dezembro de 1717, Teach parou a chalupa mercantil Margaret na costa da Ilha do Caranguejo, próximo de Anguilla. O capitão, Henry Bostock, e a tripulação, permaneceram como prisioneiros por cerca de oito horas e foram forçados à assistir sua chalupa sendo saqueada. Bostock, que havia sido mantido a bordo do Vingança da Rainha Ana, foi devolvido ileso ao Margaret e autorizado à ir embora com sua tripulação. Bostock retornou para sua base de operações na Ilha de São Cristóvão, e relatou a questão ao governador Walter Hamilton, cujo requisitou a assinatura numa declaração sobre o acontecido. Bostock deu detalhes sobre o pirata no comando de dois navios: uma chalupa e um grande navio negreiro francês, construído por holandeses, com 36 canhões e uma tripulação de trezentos homens. O capitão acredita que o maior navio levava uma preciosa carga de ouro, prata, e “uma taça muito fina” supostamente retirado do comandante do Great Allen. A tripulação pirata aparentemente informou Bostock que vários outros navios tinham sido destruídos, e que possuíam a intenção de navegar para Hispaniola e esperar por uma armada espanhola, supostamente carregada de dinheiro para pagar as forças militares. Teach questionou Bostock sobre as viagens de navios locais, e o pirata não ficou surpreso ao ser informado de que se esperava um perdão real de Londres para todos os piratas.

Bostock descreve Teach como um “homem alto de uma barba muito negra e muito longa”. É o primeiro relato registrado da aparência dele, e é a fonte de seu cognome, Barba Negra. Mais tarde, descrições mencionam que sua espessa barba negra possuía tranças, às vezes amarrado com pequenas fitas coloridas. Durante as batalhas, Johnson (1724) descreveu-o “pendendo em coldres como bolsas a tiracolo [sic], colocava pavios acesos sob seu chapéu que apareciam de cada lado do seu rosto, e seus olhos pareciam naturalmente ferozes e selvagens, tornando-o uma figura que a imaginação não podia deixar mais feroz e infernal”. Se a descrição de Johnson foi inteiramente verdadeira ou exagerada, não é clara, mas parece provável que o pirata tenha compreendido a importância das aparências; causando maior medo dos inimigos. Ele era alto, com ombros largos. Usava botas na altura do joelho e roupa escura, coberta com um chapéu largo e, por vezes, um longo casaco de cores vivas feita de seda ou veludo.Apesar de sua reputação feroz, porém, não há nenhuma fonte afirmando que ele matou ou feriu aqueles que manteve em cativeiro. Teach pode ter usado outros apelidos, em 30 de novembro, o comerciante Monserrat encontrou dois navios e uma chalupa, comandado pelo capitão Kentish e o capitão Edwards (este último sendo conhecido por Stede Bonnet)

Maynard encontrou os piratas ancorados na Ilha de Ocracoke na noite de 21 de novembro. O tenente verificou a posição dos seus navios, mas não se familiarizou com os canais locais e os bancos de areia, decidindo esperar até na manhã seguinte para fazer o seu ataque. Proibiu qualquer circulação de navios, de forma a evitar que alguém avisasse sobre a sua presença, e colocou um vigia em ambas as chalupas para garantir que Teach não poderia escapar pelo mar. Do outro lado da ilha, Teach estava ocupado em entreter os convidados. Estando Israel Hands em Bath com cerca de vinte e quatro marinheiros do Adventure, Barba Negra possuía uma tripulação bem reduzida. Johnson (1724) relatou que o pirata tinha “não mais do que vinte e cinco homens a bordo”. “Treze brancos e seis negros”, foi a quantidade relatada posteriormente por Brand ao Almirantado.

“Maldito seja, seu miserável! Quem é você?” O tenente deu-lhe a resposta: “Você pode ver pelas nossas cores que não somos piratas”. Barba Negra pediu que aproximasse o barco para que pudesse ver quem era; mas o senhor Maynard assim respondeu: “Eu não posso privar-se do meu barco, mas irei entrar a bordo do seu assim que puder, com minha chalupa.” Dito isto, Barba Negra tomou um copo de bebida alcoólica e disse para ele com essas palavras: “Maldito aproveitas minha alma se eu lhe pedir clemência, ou se você fizer isto para mim.” Em resposta ao que, o senhor Maynard relatou, ele não esperava clemência do pirata, nem deveria dar-lhe qualquer.”

“Relato de diálogo entre Maynard e Barba Negra.”

Ao amanhecer, uma pequena embarcação levando uma sonda de profundidade, seguida pelas duas chalupas de Maynard entraram no canal. A pequena embarcação foi logo avistada pelo Adventure, sendo atacada assim que esteve dentro do alcance dos canhões. Enquanto o barco fez uma pequena retirada em direção à Jane, Teach cortou o cabo da âncora do Adventure. Sua tripulação içou as velas e o Adventure manobrou para apontar seus canhões à estibordo contra as chalupas de Maynard, que foram lentamente fechando a entrada. Hyde levou a Ranger para bombordo de Jane e a Bandeira do Reino Unido foi desfraldada em cada navio. Adventure, em seguida, virou-se para a praia da Ilha de Ocracoke, indo em direção dum canal estreito. O que aconteceu depois é incerto. Johnson afirmou que houve uma troca de tiros de pequenas armas de fogo seguindo até o Adventure encalhar numa barra, enquanto Maynard ancorou e depois aliviou o peso do navio para passar por cima do obstáculo. Outra versão alegou que Jane e Ranger encalharam, embora Maynard não tenha feito menção disso em seu registro.

O fato considerado correto é que o Adventure atirou seus canhões contra os dois navios. A artilharia foi devastadora; em um instante, Maynard tinha perdido um terço de suas forças. C

Capture of the Pirate, Blackbeard, 1718 de Jean Leon Gerome Ferris, pintado em 1920.

Cerca de vinte tripulantes do Jane foram feridos ou mortos, além de nove no Ranger. Hyde morreu, e seu segundo e terceiro oficial foram mortos ou ficaram gravemente feridos. Sua chalupa estava tão danificada que não desempenhou mais nenhuma função no ataque. Novamente, relatos contemporâneos sobre o que aconteceu em seguida são incertos, mas pequenas armas de fogo do Jane podem ter cortado a vela de estai do Adventure, fazendo-o perder o controle e a encalhar no banco de areia. O ataque avassalador do Barba Negra pode ter ocasionado que Jane e Ranger também ficassem encalhados; a batalha a parir deste momento teria se tornado uma corrida para ver quem seria o primeiro a conseguir flutuar o seu navio.

O tenente manteve muitos dos seus homens abaixo do convés e na expectativa de ser atacado disse-lhes para se preparar para o combate. Teach observou o espaço aberto entre os navios, e também ordenou aos seus homens que ficassem preparados. As duas embarcações ficaram em contato uma com a outra, com ganchos sendo lançados para acertar o Adventure e várias granadas destruíram o convés da chalupa. Como a fumaça se dissipou, Teach conduziu seus homens a bordo do Jane, e animado com a visão do navio de Maynard aparentemente vazio, seus homens dispararam contra o pequeno grupo formado pelo tenente e alguns homens na popa.

O resto da tripulação de Maynard em seguida sairam do porão, gritando e atirando. O plano para surpreender Teach funcionou, os piratas ficaram aparentemente surpreendidos. Teach reuniu seus homens e os dois grupos lutaram sob o convés, que já estava escorregadio devido ao sangue de pessoas mortas ou feridas por Barba Negra. Maynard e Teach dispararam suas pederneiras na direção do outro, e, em seguida, jogaram-as fora. Teach pegou a espada e conseguiu quebrar a espada de Maynard. Os piratas tinham um treinamento inferior e estavam em menor quantidade, sendo empurrados para trás em direção à proa, o que permitiu à tripulação de Jane cercar Maynard e Barba Negra, que estavam até então lutando um com o outro. Maynard recuou novamente para disparar, Teach se esquivou para atacá-lo, mas teve a cabeça cortada por um dos homens de Maynard. Gravemente ferido, foi atacado e morto por vários outros soldados de Maynard. Os piratas restantes rapidamente se renderam. Aqueles que ficaram no Adventure foram capturados pela tripulação do

Ranger. As baixas da batalha são divergentes: Maynard informou que oito de seus homens e doze piratas foram mortos, Brand relatou que dez piratas e onze homens de Maynard foram mortos, enquanto Spotswood alegou a morte dez piratas e dez homens do rei.

A cabeça de Edward Teach presa no gurupés da chalupa do tenente Maynard, desenho de Charles Elles no livro The Pirates Own Book (1837).

Posteriormente, Maynard examinou o corpo de Teach, observando que ele tinha sido baleado nada menos que cinco vezes e cerca de vinte cortes. Ele também encontrou várias correspondências, incluindo uma carta enviada por Tobias Knight. O cadáver foi jogado no estuário, enquanto sua cabeça foi pendurada no gurupés da chalupa de Maynard para depois poder clamar sua recompensa.

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