Homenagem do dia: Frida Boccara

Frida Boccara, de seu nome completo Danielle Frida Hélène Boccara (Casablanca, 29 de outubro de 1940 – Paris, 1 de agosto de 1996), foi uma cantora e produtora musical francesa de origem judaico-italiana, nascida no então Protetorado Francês de Marrocos.
Passado algum tempo após a independência de Marrocos, Frida Boccara concluiu o bacharelado no Liceu de Casablanca e transferiu-se em 1958 para Paris, na França, onde iniciou sua carreira artística. Grande viajante e poliglota, ela participou de inúmeros festivais, se apresentou em concertos em cerca de 85 países e consagrou-se como uma das melhores intérpretes do panorama musical europeu. Boccara faleceu aos 55 anos, devido a uma infecção pulmonar.
Nasceu com o nome de Danielle Frida Hélène Boccara em 29 de outubro de 1940 na cidade de Casablanca, do então Marrocos Francês (oficialmente Protetorado Francês de Marrocos). O nome Frida, que do germânico significa “A Pacífica”, fora uma ideia de sua avó paterna, que já batizara uma filha com este nome; sua avó era uma judia natural de Livorno (cidade da região da Toscana, na Itália), onde seus antepassados viviam antes de se estabelecerem na Tunísia Francesa e depois em Marrocos. No entanto, é possível que o sobrenome Boccara tenha sua origem no Uzbequistão, mais precisamente numa cidade uzbeque de nome Bucara.
Seus pais eram Elie e Georgette (nascida Hagège) Boccara, ambos nascidos na Tunísia, mas residentes em Casablanca, onde constituíram sua família. O idioma materno de Frida era o francês, apesar de ter aprendido o árabe marroquino crescendo em Casablanca. Na época, tanto o francês quanto o árabe eram reconhecidos como idiomas oficiais do protetorado, e hoje, embora permaneçam muito falados pela população de Marrocos, apenas o árabe e o berbere possuem o estatuto de línguas oficiais do país.
A música sempre ocupou um lugar importante na vida de Frida, pois a família Boccara amava a arte e em seu lar reinava uma atmosfera criativa; a avó e a mãe de Frida, que haviam sido cantoras profissionais, foram as maiores responsáveis por transmitir às crianças esse fascínio pelo mundo artístico. Uma tia sua – a que também se chamava Frida – era igualmente uma amante das artes, e ganhara um prêmio de pintura quando jovem. Toda a família tinha o costume de cantar. Dois dos irmãos de Frida também seguiriam carreira artística quando adultos: Roger Boccara, seu irmão mais velho – que mais tarde seria profissionalmente conhecido como Jean-Michel Braque -, tornaria-se cantor e compositor, também chegando a gravar discos ao longo de sua carreira; já Lina Boccara, sua irmã mais nova, além de compositora, tornaria-se uma apreciada pianista. Além de Lina, Frida também tinha uma outra irmã mais nova.
Suas primeiras lições musicais se deram através de um professor italiano chamado Nino Vernuccio – um aluno do famoso pianista, professor e compositor franco-alemão Walter Wilhelm Gieseking. A família Boccara frequentemente se reunia durante as noites, onde as crianças com prazer tocavam e cantavam com seus jovens amigos. Ao recordar durante uma entrevista os anos de sua juventude, Frida afirmou que desde sempre gostou de cantar, e quando o fazia durante o dia, costumava fechar todas as portas e janelas de sua casa para que os vizinhos não fossem incomodados.
Já na segunda metade da década de 1950, após iniciar no Liceu de Casablanca o seu bacharelado em Filologia clássica com ênfase no estudo da língua francesa, do latim e dogrego clássico, ela tomou a decisão de dedicar-se ao estudo da arte vocal, tendo aulas de canto clássico com uma mezzo-soprano russa, passando a apreciar um repertório bem diversificado, que ia de árias de ópera a canções pop. Charles Aznavour era um de seus músicos favoritos.
Durante uma turnê do grupo The Platters em Casablanca, a jovem Frida Boccara foi apresentada ao compositor e produtor do grupo, Buck Ram, autor da famosa canção “Only You (And You Alone)”. Fascinado pela voz de Frida, ele a pediu uma fita com os testes de canto dela, para que pudesse levar consigo em sua viagem a Paris, na França. Sonhando com a carreira de cantora, Frida não pensou duas vezes quando Buck Ram a escreveu de Paris pedindo para que ela fosse ao seu encontro. Marrocos já não era mais um protetorado da França, tendo conquistado a sua independência poucos anos antes, mais precisamente em 1956. Frida apenas aguardou a conclusão de seus estudos no Liceu de Casablanca, em 1958, e então tomou, junto a seus irmãos, o primeiro voo rumo à Cidade Luz. Ao se estabelecerem em Paris, eles chegaram a atuar como um trio musical: Roger (já se apresentando como Jean-Michel Braque) e Frida faziam os vocais, enquanto Lina os acompanhava ao piano.
Em 1980, o Ministério da Cultura da França a concedeu o título de Chevalier da Ordem das Artes e Letras, uma condecoração que visa recompensar as pessoas que se distinguem pela sua criação no domínio artístico ou literário ou pela sua contribuição ao desenvolvimento das artes e das letras na França e no mundo. Neste mesmo ano, a televisão francesa a solicitou para que pudesse concorrer como intérprete na seleção da canção que representaria a França no Festival Eurovisão da Canção daquele ano. Boccara candidatou-se com sua recém-lançada canção “Un enfant de France”, mas terminou o evento em penúltimo lugar com a quinta posição. No ano seguinte ela esteve novamente presente na seleção, interpretando “Voilà comment je t’aime”, porém mais uma vez não se classificou, chegando ao final do evento em quarto lugar.
Após vários discos com distinta fortuna, Frida Boccara ausenta-se cada vez mais da cena musical durante a década de 1980. Tendo enfrentado alguns problemas de saúde, especificamente problemas de visão, que fizeram com que tivesse de usar os óculos com os quais não mais deixaria de aparecer durante suas apresentações, chegou nessa época a passar por algumas intervenções cirúrgicas. Seus fãs ao redor do mundo sentiam pela sua ausência, e, ao retornar aos palcos em 1988, ela não pode oferecer uma grandiosa apresentação. No entanto, extremamente querida pelo público de Québec, continuou a ter enorme sucesso por lá – seu disco “Témoin de mon amour”, que havia sido lançado àquela época no Canadá, chegara a primeira posição no ranking dos mais vendidos, o que fez com que Frida tivesse grande sucesso também nas rádios e nos programas de televisão. Em 1989 ela lançou seu primeiro CD, “Expression”, uma compilação com 23 sucessos; porém, devido a sua frágil saúde, apenas esporadicamente a cantora voltou a se apresentar em público nos anos seguintes.
Em 1996, Frida Boccara é acometida por uma infecção pulmonar (algumas fontes alegam que tal infecção fora uma pneumonia, outras alegam um edema pulmonar), e vem a falecer no dia 1 de agosto do referido ano em Paris, aos 55 anos. Ela está sepultada no Cimetière parisien de Bagneux, um cemitério judeu localizado na comuna de Bagneux, nos arredores da capital francesa.
O ministro da cultura francês Philippe Douste-Blazy manifestou-se em memória de Frida, declarando que ela fora “uma cantora popular autêntica, que durante muitos anos levou a música francesa pelos palcos do mundo“.
Seu filho, Tristan Boccara (a quem havia dedicado a canção “Tristan”), nasceu nos anos 1970 e seguiu os passos da mãe, sendo hoje músico. Vários artistas apreciadores do repertório de Frida regravaram ou interpretaram em suas respectivas línguas alguns dos sucessos dela; a exemplo destes as canadenses Céline Dion e Marie Denise Pelletier, a sueca Agnetha Fältskog (do ABBA), a britânica Dusty Springfield, a francesa Anne-Marie David, a holandesa Lenny Kuhr e também os brasileiros Martinha e Jessé.