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Homenagem do dia: Raimundo Teixeira Mendes

Raimundo Teixeira Mendes (Caxias, 5 de janeiro de 1855 — Rio de Janeiro, 1927) foi um filósofo e matemático brasileiro, autor da bandeira nacional republicana.

A importância de Teixeira Mendes reside na sua vigorosa e contínua atuação política, filosófica, social e religiosa, baseada nos princípios propostos pelo filósofo francês Augusto Comte, isto é, no Positivismo, em sua versão religiosa (a Religião da Humanidade). Assim como o companheiro, amigo e, a partir de certa altura, cunhado Miguel Lemos, Teixeira Mendes inicialmente aderiu à obra estritamente filosófica de Comte, ou seja, ao “Sistema de Filosofia Positiva”, recusando o “Sistema de Política Positiva”. Todavia, a partir de uma viagem de estudos que Miguel Lemos empreendeu a Paris, em que se converteu à Religião da Humanidade, Teixeira Mendes foi convencido pelo amigo da correção da obra religiosa de Comte e a partir daí iniciou uma longa e importante carreira apostólica e política, influenciando os eventos sociais no Brasil, a partir de sua atuação na Igreja Positivista do Brasil, sediada no Rio de Janeiro (então capital do Império e, depois, da República). Enquanto Miguel Lemos era o Diretor da Igreja, Teixeira Mendes tornou-se seu vice-Diretor.

Ao longo da década de 1880 Miguel Lemos e Teixeira Mendes empreenderam uma atividade de propaganda do Positivismo e de interpretação da realidade sócio-político-econômica brasileira à luz da doutrina comtiana, o que, em termos práticos, significou, naquele momento, na defesa da abolição da escravatura, da proclamação da república, na separação entre a Igreja e o Estado e na instituição geral de reformas que permitissem a “incorporação do proletariado à sociedade” (ou seja, a inclusão social, no jargão comtiano).

Em 1888 a abolição da escravatura veio coroar de êxito parcial seus esforços, juntamente com diversos outros líderes e agitadores abolicionistas. Todavia, sua importância tornou-se realmente grande em 1889, quando o também positivista religioso Benjamin Constant Botelho de Magalhães liderou o movimento que destituiu o Gabinete do Visconde de Ouro Preto e proclamou a República, no amanhecer do dia 15 de novembro.

Imediatamente após a proclamação da República, Miguel Lemos e Teixeira Mendes reuniram-se com Benjamin Constant para avaliar o movimento e a situação e apoiar ou não o novo regime. Embora preferissem outra direção para os acontecimentos, a nova república tinha o apoio da Igreja Positivista.

Quatro dias após a proclamação, no dia 19 de novembro, Teixeira Mendes apresentou ao governo provisório, por meio do Ministro da Agricultura, o também positivista Demétrio Ribeiro, um projeto de bandeira nacional republicana, em substituição ao projeto anterior, cópia servil da bandeira estadunidense (apenas com as cores trocadas). Esse projeto atualizou a bandeira imperial, mantendo o verde e o amarelo – indicando com isso a permanência da sociedade brasileira – e substituindo o brasão imperial pela esfera armilar com uma idealização do céu do dia 15 de novembro e o dístico “Ordem e Progresso” (da autoria de Augusto Comte) – indicando a evolução para um regime político aperfeiçoado e o espírito que deveria animar esse novo regime. O projeto foi prontamente aceito.

Nas décadas seguintes a atuação de Teixeira Mendes fez somente crescer, com a participação nos mais importantes eventos políticos da nova república: a separação entre a Igreja e o Estado, a revolta da vacina, a negociação dos limites territoriais (por obra do Barão do Rio Branco), a participação do Brasil na I Guerra Mundial, a legislação trabalhista (então inexistente), o respeito às mulheres, a proteção dos animais e inúmeros outros.

Embora desde 1905 Teixeira Mendes tenha assumido a liderança da Igreja Positivista, em substituição a Miguel Lemos, que se encontrava enfermo, não abandonou o título de “vice-Diretor” do Apostolado, mesmo em 1917, quando Lemos faleceu.

Sua morte, em 1927, parece pressagiar igualmente o fim de uma etapa do regime que ajudou a criar: aquilo que os historiadores posteriores chamariam de “República Velha” deixaria de existir três anos depois. Enterrado no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro, seu cortejo fúnebre parou a cidade do Rio.

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