Homenagem do dia: T. E. Lawrence

Thomas Edward Lawrence CB, DSO (16 de Agosto de 1888 – 19 de Maio de 1935), também conhecido como Lawrence da Arábia, e (aparentemente entre os seus aliados árabes) Aurens ou El Aurens, foi um arqueólogo, militar, agente secreto, diplomata e escritor britânico.
Tornou-se famoso pelo seu papel como oficial britânico de ligação durante a Revolta Árabe de 1916-1918. A sua fama como herói militar foi largamente promovida pela reportagem da revolta feita pelo viajante e jornalista estadunidense Lowell Thomas, e ainda devido ao livro autobiográfico de Lawrence, Os Sete Pilares da Sabedoria.
Nasceu em Tremadog, Gales, Reino Unido, segundo filho do anglo-irlandês Sir Thomas Robert Tighe Chapman, 7º barão de Westmeath (1846-1919) e de Sarah Junner (1861-1959), antiga governanta deste. O casal vivia em união de facto, pois Sir Thomas abandonara na Irlanda a sua mulher legítima e suas quatro filhas, adaptando o apelido Lawrence. O casal Lawrence teve cinco filhos varões, e depois de alguma deambulação pela Grã-Bretanha e França estabeleceria a sua residência em Oxford, onde os jovens Lawrence, educados segundo os mais restritos preceitos puritanos da Igreja Anglicana (T.E.L. chegaria a ser catequista), fariam os seus estudos secundários e universitários.
O jovem Ned era um leitor ávido, possuía uma enorme inteligência e imaginação e tinha a paixão da História, especialmente dos Gregos antigos, da época medieval e da cavalaria, cujo idealismo, normas de honra e castidade adaptou ardentemente como modelo a seguir. Já na adolescência se submetia a um regime espartano de treino físico que haveria de o tornar extremamente resistente. Era frequente fazer jejuns prolongados ou alimentar-se pobremente. Tinha o gosto da velocidade e passava o seu tempo livre em longos passeios de bicicleta pelas estradas campestres, visitando e estudando antigos monumentos medievais na Grã-Bretanha e na França. Mais tarde, em 1909, ao preparar a sua tese de licenciatura, viajou até à Síria onde estudou os castelos dos Cruzados, percorrendo enormes distâncias a pé.
Foi convocado para as Forças Armadas da Inglaterra no início da Primeira Guerra Mundial e em 1917 seria oficialmente destacado para a força expedicionária do Hejaz, sob o comando do General Wingate, sendo transferido em 1918 para o estado-maior do General Allenby.
É como tenente do serviço secreto inglês que Lawrence inicia, em 1914, sua carreira militar no Oriente Médio. A identificação de Lawrence com a causa árabe, cultivada quando ainda trabalhava como arqueólogo, torna-o peça importante da manobra britânica para vencer o Império Turco Otomano, aliado da Alemanha na guerra. Como oficial inglês e admirador da cultura árabe, aproxima-se de Faiçal, um dos líderes da revolta e filho do xerife de Meca, Hussein ibn Ali. Seus conhecimentos sobre a geografia local e o exército turco, somados aos ideais de soberania da nação árabe, logo conquistam Feisal e fazem de Lawrence o conselheiro logístico do movimento, comandante de um exército de dez mil homens.
Grande articulador, ele consegue reverter a ocupação do território árabe, impedindo a retaliação turca, através de ações de guerrilha, como explosões de trens e estradas de ferro e aniquilação de reservas materiais, que culminam com a tomada de Damasco em outubro de 1918. Nesse ano, Lawrence foi promovido ao posto de tenente-coronel.
Lawrence foi feito Companheiro da Ordem do Banho e foi-lhe concedida a Ordem de Serviços Distintos (DSO) e a Legião de Honra francesa, mas em Outubro de 1918 recusou ser feito Comandante Cavaleiro do Império Britânico (que lhe possibilitaria o uso do título de Sir ), das mãos do próprio rei Jorge V.
Em 1919 tornou-se conselheiro da delegação árabe na Conferência de Paz de Paris, onde viu as antigas promessas de reconhecimento da soberania da nação árabe serem desfeitas, com a divisão dos territórios árabes do antigo Império Otomano sob os mandatos da França (Síria e Líbano) e do Reino Unido (Palestina e Mesopotâmia). Foi também nesse ano que o seu pai morreu e que a mãe lhe confirmou que ele e seus irmãos eram filhos ilegítimos, facto chocante para a época e que muito perturbava o próprio Lawrence.
Entre 1921 e 1922 foi consultor de assuntos árabes da Divisão do Oriente Médio do Departamento Colonial, sob a direção de Winston Churchill, tendo participado, em 1921, na “Conferência do Cairo”.
Depois da passagem à reserva, Lawrence planejava levar uma vida tranquila e solitária em Clouds Hill, rejeitando mais uma vez convites para posições importantes. Contudo, em 13 de Maio de 1935, quando Lawrence foi de moto até aos correios de Bovington, para enviar uma encomenda de livros a um amigo e um telegrama a Henry Williamson, sucedeu o imprevisto. De regresso a Clouds Hill, ao desviar-se abruptamente para evitar o embate com dois jovens ciclistas foi projetado violentamente da moto, fracturando gravemente o crânio. Permaneceu em coma durante seis dias, morrendo a 19 de Maio, aos 46 anos e 9 meses de idade, sem nunca ter recuperado a consciência (se tivesse sobrevivido teria ficado em estado vegetativo). Foi enterrado a 21 de Maio, na Igreja de São Nicolau, em Moreton, Dorset. Assistiram ao enterro Winston Churchill e Lady Astor, entre outros notáveis.
As circunstâncias do acidente levaram Hugh Cairns, neurologista que atendeu Lawrence, a realizar um estudo sobre a adoção de capacete motociclístico por civis e militares, concluindo que a prática poderia diminuir drasticamente o número de fatalidades causadas por traumatismo craniano. A morte de Lawrence e o subsequente trabalho de Cairns contribuiu largamente para a adoção de capacetes entre motociclistas, trabalhadores e desportistas em todo o mundo.